Ejaculação Precoce

Ejaculação Precoce – EP – é uma das disfunções sexuais mais prevalentes no homem e, diferente da maioria das disfunções sexuais que acometem principalmente homens mais maduros, a EP também é muito comum nos jovens.

Apesar de virtualmente todo homem ter estratégias para postergar o orgasmo e prolongar a relação, nem todos têm EP. Por definição, para ser considerado um distúrbio, o paciente precisa ter 3 características: curto tempo de latência ejaculatória, falta de controle e impacto negativo na vida sexual.

Vale um parêntese para a introdução de um termo que utilizaremos muito neste texto. O termo latência ejaculatória diz respeito ao tempo que leva para atingir o orgasmo após o início da penetração, e é chamado no meio científico de “tempo latência intra-vaginal” ou IELT – do inglês “Intravaginal ejaculation latency time”). Globalmente falando, a média de latência do homem varia entre 3 a 6 minutos.

Classicamente a EP é dividida entre primária e secundária, sendo primária para pacientes que sempre tiveram esses sintomas (desde o início da vida sexual) e secundária para aqueles que passaram a apresentar EP após anos sem essa queixa. Outra diferença entre estas formas de EP é o limite “tolerado” nos guidelines para o IELT, sendo 1 minuto o limite para EP primária e 3 minutos para EP secundária.

O assunto não é assim tão simples nem tão preto no branco. Em 2014, Althoof et al, publicou uma atualização do guideline da ISSM (Sociedade Internacional de Medicina Sexual) em que se reconhece esta complexidade. Por exemplo: consta na atualização que pacientes que estão vivenciando uma redução significativa do IELT, geralmente para menos de 3 min, são considerados como tendo EP secundária. Essa flexibilização da definição é muito importante na prática clínica, onde não é incomum indivíduos com latência maior que 3 minutos estarem incomodados, abrindo espaço para uma atenção igualmente séria para este grupo de pacientes.

Por outro lado, o termo incômodo é cada vez mais presente nos guidelines para definir disfunções sexuais. Se um homem tem o IELT menor do que 1 minuto mas este tempo é suficiente para que sua(seu) parceira(o) fique igualmente satisfeita(o), não existe qualquer problema!

E o que causa EP? Quais as teorias?

As causas são várias e podem ser múltiplas. Algumas delas:

Neurobiologia

Nas ultimas 2 décadas, teorias neurobiológicas ganharam força. Dentre essas teorias, uma das que tem maior aceitação e se baseia em uma das modalidades terapêuticas mais comum são as alterações em receptores e transportadores de Serotonina, hormônio muito relacionado ao orgasmo. Isso explica bem alguns casos de EP familiar, com relatos de até 14 membros de uma família que tinham o IELT menor do que 1 minuto.

Disfunção Erétil

Pois é! Poucos pacientes sabem disso, mas a disfunção erétil (DE) é uma das maiores causas de EP secundária no homem maduro. O mecanismo é relativamente simples e fácil de ser compreendido. Quando um homem com uma ereção limítrofe inicia uma relação sexual, é comum o mesmo acelerar a relação com medo de que a ereção não dure. Essa ansiedade e preocupação com o desfecho acaba aumentando ainda mais a chance de atingir o clímax de maneira precoce, agravando ainda mais o quadro. Em estudos avaliando a força dessa associação constatou-se uma chance de 3.7 a 11.9 vezes maior de ter problemas com EP em homens com DE. É, portanto, extremamente relevante, e precisa ser questionado ativamente na consulta, pois nem sempre esta relação de causa está clara para o paciente e, por este motivo, pode não ser comentada.

Hormônios

O hipertireoidismo, por exemplo, é uma condição em que a glândula tireoide funciona de maneira exagerada, e alguns estudos mostraram que a incidência de EP secundária é de aproximadamente 50% nestes homens. Quando corrigido o distúrbio, essa prevalência cai a 15%, indicando que o exagero dos hormônios tireoidianos pode gerar EP.
Outras alterações hormonais já foram discutidas e alguns estudos sugeriram uma correlação com EP secundária, como é o caso de baixo níveis de prolactina e altos níveis de testosterona, mas os dados são mais controversos.

Prostatite

Prostatite é, por definição, a inflamação dos tecidos da próstata.
A prevalência de EP em homens com prostatite crônica chega a 77% em algumas séries, justificando a possível solicitação de exames de próstata em casos específicos de EP secundária. Mesmo assim, os dados também são conflitantes e por este motivo devem ser analisados por um especialista.

Psicologia

Historicamente a EP era considerada algo de origem exclusivamente psicológica, associada a stress e/ou ansiedade.
Acredita-se, também, que fatores individuais – como por exemplo a autoconfiança, a autoimagem corporal, problemas conjugais, traumas, abusos anteriores, culpa, dentre inúmeros outros (…) – acabam agindo tanto como causadores como perpetuadores do quadro. Cada relação frustrada reforça os medos e as chateações, aumentando a chance de ocorrer novamente.
Para estes casos, é recomendada uma terapia multidisciplinar, envolvendo não só seu urologista mas também outros especialistas, como psicólogos, psiquiatras e terapeutas.

E o tratamento? Quais as opções?

Fica claro que pela complexidade das possíveis causas e suas interações, o tratamento não é mágico, mas pode ser rápido. Apesar de ser fácil aumentar a latência ejaculatória do homem com algumas medicações, que serão discutidas, se nada mais for feito a latência retorna ao ponto de partida após a retirada da medicação. Entender que seu tratamento não é semelhante ao de uma simples infecção, que um curso de dias de medicação extingue os sintomas, pode ser frustrante, mas é muito importante e tem grande impacto no sucesso do tratamento.

Tratamento medicamentoso

Antidepressivos –

Paroxetina, Clomipramina, Sertralina, Fluoxetina, Dapoxetina… Nomes comumente ouvidos, mas muitos ainda se assustam com a ideia de tomar um antidepressivo para EP. Apesar de parecer estranho, esta classe de medicamentos é utilizada no mundo todo com o intuito de aumentar o IELT. Este efeito que incialmente era descrito como um efeito colateral e indesejado destas medicações se mostrou tão consistente que fez com que elas fossem exploradas com este fim.
A escolha da medicação varia para cada caso e sua dosagem também.

Agentes tópicos

O uso de anestésicos tópicos para reduzir a sensibilidade da glande é utilizado por muito pacientes no tratamento de EP, permitindo que homem prolongue o tempo de penetração antes de atingir o clímax.

Apesar de serem uma possibilidade real, preparações específicas devem ser utilizadas para maximizar a absorção do composto anestésico. Além disso, deve-se tomar cuidado com a transferência deste produto para a(o) parceira(o), posto que o agente irá acabar levando à anestesia genital de ambos e dificultar o orgasmo de ambos também. O uso da camisinha pode ajudar a evitar essa transferência indesejada.

Psicoterapia e tratamento comportamental

A educação sobre o quadro, quão comum é, a inclusão da(o) parceira(o) no tratamento, a promoção do auto conhecimento e dos sinais individuais de que o clímax está perto, associados a estratégias comportamentais para prolongar a atividade sexual é muito importante para capacitar o paciente a retirar a medicação de forma gradual.
Em casos específicos, evidentemente, trabalhos mais complexos podem ser necessários para lidar com vivencias sexuais traumáticas, ansiedade e outros problema que podem ser relevantes para o quadro.

Vale ressaltar que, apesar do uso de medicamentos ser uma forma segura e eficaz de rapidamente proporcionar uma vida sexual mais satisfatória em pacientes com EP, é sempre importante o acompanhamento de um profissional na área de psicologia. Se nada além das medicações for feito, a retirada destes medicamentos frequentemente leva à recidiva dos sintomas.

Formação

Graduado em Medicina, Cirurgia Geral e Urologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Fellowship em Medicina Sexual pelo Memorial Sloan Kettering Câncer Center - (MSKCC - Nova York - EUA)

Estágio externo na Havard Medical School (Boston - EUA)

Estágio externo na Keck Medical School (Los Angeles - EUA)

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